“Você faz parte deste Legado”. Este foi
o lema do primeiro dia do 4º ENAPAT (Encontro Nacional de Patologia das
Construções), que aconteceu de 3 a 5 de julho em São Paulo (SP).
Na abertura do Encontro, o anfitrião
Felipe Lima deu as boas-vindas e fez uma introdução sobre tudo o que viria pela
frente, reforçando sobre o tema desta edição ser Legado, tanto dos
conhecimentos que recebemos dos especialistas que vieram antes, como o que
deixaremos para os que vierem depois de nós.
A primeira palestra, com o tema
“Entendendo a Segurança das Estruturas de Concreto Armado”, foi do professor
Paulo Helene, uma referência no setor de Patologia das Construções.
Segundo ele, os vários coeficientes de
segurança usados em projetos estruturais na verdade são “coeficientes de
desconhecimento”. No caso de obras já executadas, onde pode-se medir a
estrutura existente, podem-se desconsiderar, caso a caso, alguns coeficientes,
sejam eles para aumentar carga ou para diminuir resistências. Em reservatórios
e barragens, por exemplo, onde já sabe-se a capacidade máxima, não faz sentido
majorar cargas em 1,4 vezes.
A analogia com a Medicina apareceu
várias vezes ao longo do dia. O professor Helene afirmou que o concreto é como
um ser humano, vivo e ativo. Sua resistência aumenta com o tempo, devido à
hidratação do cimento, e diminui com a carga aplicada. Ao longo do tempo, o
aumento compensa o decréscimo, com saldo positivo.
Ao final, demonstrou graficamente como
o uso de insumos otimizados pode oferecer a mesma resistência do concreto e
reduzir as emissões de CO2, trazendo mais sustentabilidade para as construções.
Retrofit: a
geriatria das construções
Na sequência, foi a vez dos irmãos
Alexandre e Carlos Britez falarem sobre o Retrofit de construções. Por serem
edificações muito antigas, mais uma vez fazendo uma analogia com a Medicina,
quem atua com retrofit pode ser considerado um “geriatra”.
Corroborando o que o professor Helene
afirmou, Alexandre mostrou o resultado de uma pesquisa na qual 50% dos
patologistas não aceitam desconsiderar coeficientes de segurança em seus
projetos de reforços de estruturas. Ou seja, isto ainda não é consenso no
setor.
Fatores como vento e incêndios não eram
considerados em projetos mais antigos, mas no Retrofit devem ser avaliados e
usadas as Normas Técnicas atuais. Já sobre fazer ensaios em obras existentes,
Alexandre afirma que o projetista tem que estar em sua “zona de conforto”, ou
seja, fazer tantas prospecções quantas ele achar necessário, pois ele vai
assinar por isto.
Foi apresentado por Carlos o case do
Edifício A Noite, no Rio de Janeiro (RJ), com mais de 100 anos. Segundo ele,
algumas técnicas de construção do passado eram mais apuradas. “Hoje, tem prédio
com patologia que ainda não foi nem entregue”, afirmou.
Ele fez mais uma analogia com a
Medicina, afirmando que Retrofit não é amputação. Não é demolir e fazer de
novo. É preciso aproveitar o máximo possível da construção original.
Pediatria das
construções
Emilio Takagi, outra referência no
setor, apresentou em sua palestra um conceito novo, de “pediatra” das
construções. Os Engenheiros pediatras cuidam da “infância” das edificações, ou
seja, até aproximadamente os 10 anos após sua entrega. Este é um período marcado
por vícios ocultos e falhas de desempenho, que algumas vezes são maquiados
pelos coeficientes de segurança aplicados em projeto.
Segundo ele, os primeiros 10 anos de
uma construção permitem evitar que a edificação cresça doente. Para isto,
existe hoje a proposta de criação de um Seguro Decenal ou Seguro de Danos
Estruturais, uma espécie de “plano de saúde” que já é aplicado em outros
países.
Emilio mostrou que o conceito de
responsabilidade técnica de uma obra vem desde os tempos do Código de Hamurabi,
por folta de 1750 a.C. Mostrou também como este seguro funciona na Inglaterra,
uma inspiração para aplicação também no Brasil.
Um Seguro Decenal Estrutural (SDE) vai
gerar muita demanda por inspetores com independência técnica e financeira das
construtoras, contratados diretamente pelas seguradoras. Novamente fazendo uma
analogia com a Medicina, as construtoras atuariam como Obstetras, antes do
nascimento (entrega) da obra, e os Patologias com os Pediatras pelos primeiros
10 anos de vida.
Durabilidade
das estruturas
Fechando a manhã do primeiro dia, foi a
vez do painel sobre Durabilidade das Estruturas de Concreto Armado. Com a
mediação de Anderson Couto, o painel contou com a participação dos
especialistas Carlos Britez, José Eduardo Granato, Robson Gaiofato e Daniel
Veras.
Dentre os temas debatidos, estiveram os
problemas com impermeabilização, painéis solares não previstos, carbonatação,
softwares de dimensionamento e detalhamento de armaduras, currículos das
Engenharias e indicadores.
Selantes,
fachadas, reforços e impressão 3D
A parte da tarde teve início com a
palestra de Fernando José, da Aplicsil, que falou sobre selantes de alto
desempenho. Foi uma verdadeira aula sobre a química que envolve este tipo de
proteção a edificações.
Em seguida foi a vez de Djalma Júnior
apresentar seu artigo técnico, um dos finalistas da competição realizada nesta
edição do ENAPAT. Ele apresentou um estudo feito nos EUA sobre o desempenho de
técnicas de reforço e contenção em fundações afetadas por erosão costeira,
impressionando a plateia.
A palestra seguinte foi de Matheus
Nascimento, que abordou a construção digital e a impressão 3D com argamassa.
Foram mostrados vários tipos de robôs em ação. Segundo ele, este mercado cresce
5% ao ano e deverá chegar a 1,17 trilhão de dólares em 2030.
Diego Camara, do Grupo Hard, explanou
em sua palestra sobre recuperação de fachadas, tratamento de superfícies em
geral e mais especificamente de juntas. Ele desmistificou a especificação de
materiais para juntas e mostrou quais fatores são mais importantes para cada
escolha.
Fechando o primeiro dia do ENAPAT 2025,
aconteceu o painel sobre Desempenho e Durabilidade das Fachadas. Com mediação
de Felipe Lima, os painelistas foram Renato Sahade, Mairton Santos, Audrey Dias
e Guilherme Castro.
Dentre os temas abordados, destaque
para a importância de seguir os projetos, a falta de mão-de-obra especializada,
problemas com fiscalização, paralelos entre revestimentos e fachadas em vidro,
tecnologias construtivas e de inspeções. Felipe lembrou que hoje, mesmo com
tecnologias como BIM e drones, nada substitui uma boa janela de inspeção, mesmo
que seja um procedimento invasivo.
Várias divulgações de livros foram
realizadas durante o encontro, confirmando a importância do ENAPAT para os
especialistas do setor, que privilegiam o evento para seus lançamentos