Construções do futuro, lições do passado: segundo dia do ENAPAT 2025 apresenta inovações, diagnósticos e debates fundamentais

O segundo dia do ENAPAT 2025 contou com grande expectativa dos participantes, após um primeiro dia em altíssimo nível.

 

A palestra de Leonardo Passos, da Pi Engenharia, deu início aos trabalhos, abordando a utilização dos ensaios para auxílio na definição de reforços e recuperação. Antes de tudo, ele conceituou o Retrofit e alertou que, algumas vezes, técnicas inadequadas podem piorar a saúde de prédios antigos que ainda estão bem.

 

Leonardo apresentou várias tecnologias e métodos de inspeção, como drones e robôs aquáticos, além de ferramentas analíticas como a Matriz GUT para avaliar a Gravidade, Urgência e Tendência de patologias, muito usada para priorização de áreas a serem recuperadas. Para o As Built de estruturas, demonstrou as vantagens do uso de Laser Scanning para a geração de modelos 3D. Também o uso de radar para identificar onde estão as armaduras em pilares, vigas e lajes. Em relação ao BIM no Retrofit, reforçou as vantagens de ter todas as especialidades (estrutura, elétrica, hidráulica, etc) em um mesmo modelo 3D.

 

“Aprendemos muito sobre estruturas estudando as edificações mais antigas”, afirmou ele.

 

Quanto à identificação de propriedades mecânicas de estruturas existentes, elencou alguns métodos, como a esclerometria, pinos e extração de testemunhos. Já para investigar fundações e estruturas enterradas ele citou o Georadar. Dentre os ensaios mais utilizados, mostrou como são usados o potencial de corrosão e a resistividade elétrica, bem como o ultrassom dinâmico para obtenção do módulo de elasticidade inicial, o nitrato de prata para ver se há cloretos e fenolftaleína para verificar se há carbonatação.

 

Finalizou reforçando a importância do monitoramento ao longo da vida útil das edificações e mostrou alguns cases.

 

Empreendedorismo

 

Fernando Gaal, da Serpol, apresentou um “Patologia Talk” de 15 minutos com o tema: Foco não é escolha, é renúncia. Ele mostrou as dificuldades durante a pandemia e como decidiram aumentar o volume de propostas enviadas para não depender mais do acaso.

 

Segundo ele, a partir do foco em um aspecto de um problema, o restante melhora em consequência, assim como peças de dominó. Deu como o exemplo o absenteísmo em uma empresa, que foi endereçado e, a partir da melhora neste aspecto, todas as outras questões de RH melhoraram.

 

“Qual é o único dominó que você tem que derrubar?”, deixou como reflexão ao final.

 

Rehab

 

Helder Souza, da Quartzolit, falou na sequência sobre reabilitação de estruturas de concreto armado, mostrando cases e lições aprendidas.

 

“Tudo começa pelo diagnóstico”, cravou.

 

Segundo ele, as principais causas de defeitos são corrosão de armaduras, infiltração de água, variações térmicas, reações químicas internas, erros de projeto ou execução, sobrecarga ou mudança de uso, além da falta de manutenção preventiva.

 

Mostrou a “Lei dos 5” ou Regra de Sitter, que diz que quanto mais se investe no projeto e/ou na manutenção preventiva, menos se gasta em correções no futuro.

 

 

Fazendo mais uma analogia com o corpo humano, afirmou que a “Terapia” no processo de recuperação de uma estrutura é o conjunto de técnicas para o projeto e execução. Ao final, mostrou vários cases de patologias e recuperação de estruturas.

 

Inteligência Artificial em Laudos

 

O segundo artigo técnico participante da competição teve como tema ferramentas computacionais (IA e algoritmos) na perícia e engenharia, abordando as potencialidades, limitações e impactos na geração assistida de laudos de vícios construtivos.

 

Quem apresentou o artigo foi Leonardo Santos, representando também os co-autores Vanessa Silva e Josué Junior. Segundo Leonardo, hoje está havendo muitas nomeações na justiça, o que demanda maior dinamização na entrega dos laudos. Segundo ele, a Engenharia encontra-se inserida na Indústria 5.0, na qual há intensa interação entre homem (decisor) e máquinas (assistentes).

 

No estudo foi usada a ferramenta de Inteligência Artificial Gemini Vision e de visão computacional ORB, na qual a IA sugere uma solução e o perito a valida. Ao final, foi apresentado um vídeo do protótipo em pleno funcionamento e os resultados alcançados.

 

Inspeções e Perícias

 

A manhã do segundo dia terminou com um painel sobre Inspeções e Perícias. Com a mediação de Jonathan Monteiro, contou com a participação dos especialistas Stella Maris, Alexandre Fontolan, Acácio Santos e Diogo Moreira.

 

“O perito é o farol do juiz”, afirmou Acácio.

 

Foram abordadas questões sobre a Norma de perícias, problemas em construções do programa Minha Casa Minha Vida, diferenças e semelhanças entre inspeção predial (serviço) e perícias (ações judiciais), especificidades da linguagem do Direito, uso de outras Normas (Ibape, por exemplo), boas práticas, capacitação, etc..

 

Mais Empreendedorismo

 

A tarde iniciou com mais um Patologia Talk (novo modelo implantado este ano no ENAPAT), feito por Leo Gomes. O tema foi “Do técnico ao empresário: o mito que nos engana”.

 

“Nem todo técnico está pronto para empreender, e o verdadeiro risco está em ignorar esta realidade”, afirmou.

 

Segundo ele, o caminho começa na técnica, mas o negócio exige muito mais. Ele mostrou três personagens que existem no mercado: o consultor valioso, onde ele mesmo é o negócio; o engenheiro sonhador, que quer escalar mas carrega a empresa nas costas; e o empreendedor por ilusão, que confunde liberdade com falta de direção.

 

Ainda usando uma tríade, explicou que deve haver um equilíbrio entre os papéis de técnico, administrador e empreendedor. Antes de apresentar o ADPAT Negócios, o braço empresarial da ADPAT, finalizou com os 5 passos para ter um negócio e não somente ser empresário, nesta ordem: aprender gestão; criar processos; documentar rotinas; formar equipes; e delegar com confiança.

 

Madeira Engenheirada

 

A professora Fabiana Oliveira fez uma das palestras mais esperadas do dia, pois apresentou um tema pouco abordado quando se fala de construções e patologias: Madeira!

 

O tema da apresentação foi: Madeira Engenheirada – aspectos projetuais que visam a durabilidade das estruturas. Este novo conceito aborda produtos de madeira reprocessados e reconstituídos com objetivo de melhorar suas propriedades para uso estrutural ou de vedação. Ela apresentou a Norma Brasileira NBR 7190, de 2022, que rege seu uso, bem como a Instrução Técnica do Corpo de Bombeiros contra Incêndios.

 

Fabiana mostrou um mapa evidenciando que a madeira usada nestes casos é, em quase sua totalidade, de Eucalipto ou Pinus, que são florestas plantadas e têm que ser certificadas, ou seja, sem impacto no desmatamento. Segundo ela, o que ainda entrava o maior avanço é o desconhecimento e uma “cultura” de que a madeira é um material inferior. Finalizou mostrando estruturas e revestimentos em madeira em vários lugares do mundo.

 

BIM Histórico

 

Outra apresentação bastante esperada foi a do professor Ezequiel Mesquita, com o tema “HBIM: do escaneamento digital à modelagem da informação”. Ele iniciou apresentando o conceito de HBIM, sigla em inglês para Historic Building Information Modelling, um braço do BIM ligado ao patrimônio histórico.

 

Segundo ele, o HBIM muda a perspectiva, pois cria modelos 3D que representam tanto a geometria quanto os materiais existentes. A obrigatoriedade de entrega dos projetos em BIM para contratos públicos, no Brasil, tem impulsionado esta tecnologia.

 

O Modelo Digital é gerado a partir dos dados obtidos com Geotecnologias e complementados com os dados históricos. A aquisição destes dados geográficos geralmente é feita com Aerofotogrametria (com aviões ou drones) e varreduras a laser (terrestre, podendo ser estática ou móvel). A nuvem de pontos obtida fornece informações geométricas e também sobre níveis de degradação dos materiais.

 

“Como mitigar efeitos das mudanças climáticas em edifícios históricos?”, questionou.

 

O professor Ezequiel mostrou pesquisas feitas na escala de cidade, usando drones com termografia, sensores terrestres, geoprocessamento e inteligência artificial. Em um dos estudos, chegou-se a uma previsão de 43 graus Celsius em 2100 para uma certa região, o que é alarmante pois alguns materiais de vedação, por exemplo, podem ter variações de 400% a esta temperatura.

 

Impermeabilização

 

Em seguida foi a fez do painel sobre Desempenho das Impermeabilizações. Com mediação de Bia Menezes, contou com a participação dos especialistas José Miguel Morgado, Jorge Lima, Alexandre Soncini e Flávio Camargo.

 

Eles abordaram a adoção de Norma de impermeabilização, problemas com mão-de-obra, déficit educacional, importância do substrato, banalização de “tutoriais” no Tiktok, produtos “milagreiros” no mercado, necessidade cada vez maior de projetos, fiscalização e conscientização.

 

Aqui apareceu mais uma analogia com a Medicina, onde foi afirmado que uma construção com boa impermeabilização é como um paciente com a imunidade alta.

 

Fechando o segundo dia do ENAPAT 2025, a professora Cirene Paulussi abordou os fundamentos da Patologia em impermeabilização para perícias de Engenharia.

 

Ela mostrou as principais causas de patologias devido a problemas de impermeabilização, explicou em detalhes as etapas para realização de um projeto, e adiantou o que deverá mudar com a próxima revisão da Norma.

 

Assim como no primeiro dia, o segundo também terminou rigorosamente dentro do horário, o que traz leveza e previsibilidade para o evento, reforçando o compromisso da organização com a agenda dos palestrantes e participantes.